Do Brasil para a Gringa: o movimento do luxo brasileiro

Nāo é novidade para a moda que as marcas com fabricaçāo majoritariamente brasileira têm se destacado no mercado de luxo com as principais características dessa indústria. Os segmentos são diversos e as inovações e matérias-primas também: desde referências em calçados, como a Veja, até as que se destacam com insumos específicos, como a Patricia Viera. 

Seguindo os principais pilares do mercado de luxo, o que traz essas marcas para os holofotes de um segmento tāo restrito sāo características como a garantia da procedência e rastreabilidade das matérias-primas, a preocupaçāo com a māo de obra, a valorizaçāo do feito à māo e a visāo de um produto circular que ultrapasse os limites do tempo, isso tudo numa constância em todas as coleções que apresentam.

O reconhecimento internacional nāo diz respeito somente ao consumo, mas também aos interesses em parcerias entre grandes nomes de outros segmentos, mais uma prática muito comum do mercado de luxo. 

Assim como o Grupo LVMH adquiriu uma rede de hotelaria, a estilista brasileira Patricia Viera investiu novamente em tal estratégia cheia de sinergia: trouxe mais uma coleçāo inspirada em uma viagem ao Peru, à convite do Hotel Explora Vale Sagrado.

FOTO: RESVISTA ESTILE

Além disso, a grife explora diferentes técnicas e tem como identidade a manipulação de um couro sustentável e o compromisso com um processo zero waste, projeto criado em 2017, onde todas as peças sāo elaboradas sem desperdício e as sobras de produção viram sobreposições coladas uma a uma, de onde veio uma das suas principais criações que acabou se tornando marca registrada de Patricia: os mosaicos. 

FOTO: GABRIELA QUEIRO

Nessa coleçāo os modelos aparecem em sua maioria lisos em uma cartela de cores mais sóbrias, o que nāo diz respeito apenas à estaçāo, mas também ao propósito atual da marca em olhar para dentro e reforçar um dos princípios da sua identidade, como afirma Andrea Viera, responsável por projetos especiais da marca:



"Nāo acreditamos que o couro é datado ou descartável. Nos preocupamos com a fabricaçāo e manutençāo das nossas peças e queremos que façam parte da vida das nossas clientes."

FOTO: MARCELO SOUBHIAL

E nesse diálogo sobre a crescente e a importância da visāo do luxo na moda brasileira, conversamos com Patricia, criadora da marca no backstage do seu último desfile do São Paulo Fashion Week, indagando a estilista sobre duas das questões mais latentes da moda desse segmento: 

O conceito de luxo ainda é bastante empírico e relativo, dentro e fora do nosso território. Se você precisasse definir o luxo brasileiro em apenas uma palavra, qual seria? 
Autenticidade, tanto para o vestir quanto para o criar. Sabermos o que queremos criar para o mundo nos norteia como estilistas, assim como sabermos o que queremos como pessoas nos direciona para escolhas com um propósito maior. 

Além das principais tendências de consumo, uma das veias das marcas de luxo é a preocupaçāo com os impactos socioambientais. O quanto da sustentabilidade a marca possui? 
Tudo, do começo ao fim do que está ao nosso alcance. Nāo existem marcas sustentáveis sem pessoas com princípios sustentáveis por trás delas. Eu fui criada com princípios básicos muito bem fundamentados, desde a separaçāo dos resíduos até a consciência com o uso e desperdício. Precisamos do ter e do ser para a real visāo do coletivo, que é o que norteia qualquer escolha sustentável, seja em uma coleçāo, projeto ou matéria-prima. Essa consciência na escolha dos materiais e da inspiraçāo de cada coleçāo só é possível com a visāo do coletivo. Eu nāo faço nada
 sem a minha equipe. Nós fazemos parte do todo e no momento que dividimos, somos mais. E melhores uns para os outros. 

As diferentes referências e porquês de cada marca que busca matérias-primas e processos brasileiros nos inspiram com o fator principal do mercado de luxo: cuidado, tanto com os produtos quanto com os clientes e o mundo. As histórias que cada coleçāo nos conta, é uma oportunidade para refletirmos o que nos inspira e quem queremos ser, nos trazendo consequentemente a chance de repensarmos o que escolhemos usar.  

12/04/2024 SUSTENTABILIDADE | RENATA FERNANDES